Numa bela manhã de primavera,
acordei numa franca alegria,
após anos e anos de espera,
vi cair como cordeiro aquela fera
que trazia o meu país na fantasia.

Vi soldados desse feito enobrecidos
com a arma na mão, bem confiantes,
os seus rostos nesse dia renascidos,
lembrando os heróis dos tempos idos,
recebidos pelo povo, triunfantes.

Vi masmorras abertas de par em par,
onde estava prostrada muita vida,
que torturas, que martírios, que pesar,
pela bicheza da raiz de Salazar,
contra a própria nobreza enraivecida.

Vitória então gritava o povo inteiro,
seu sinal era de 'V', ninguém se esquece,
pelo mundo se espalhando o mensageiro,
dizendo o Portugal hospitaleiro
em vinte e cinco de Abril rejuvenesce.

Vi a maior guerra só com flores,
vi os Lusos soldados acarinhados,
Portugal é e muito bem país de amores,
as armas em vez de cuspir horrores
eram jardins de cravos encarnados.

Voltam à Pátria-Mãe os desterrados
que o fascismo perseguiu à voz da morte,
na chegada todos são acarinhados,
apesar de maus tratos já passados,
foi liberto Portugal, a sua sorte.

Vi o dia da loucura popular,
essa loucura simboliza o puro amor,
a liberdade que se acabava de ganhar
é aproveitada para a tropa acarinhar
no Um de Maio, Dia do Trabalhador.

Tanta flor vermelha em Portugal!
toda a gente mostra o cravo engrandecido,
dando vivas à liberdade nacional,
todos gritam em coro uno e cordial
O Povo Unido Jamais Será Vencido.

      Joaquim Ramos Pereira
        ''SOMAR''/1974
      (para meditar Abril)