Do poeta Federico Landaeta, Venezuela

Traduzido por Adelaide Vilela

 

Há cerca de 40 anos, na costa oriental do Lago de Maracaïbo, tivemos a experiência de Natal mais maravilhosa da nossa vida. Trabalhávamos em aerotécnica, uma empresa de serviços que efectuava voos em helicópteros, em plataformas das diferentes companhias petroleiras dessa época e, como vivíamos numa caravana onde o espaço era muito limitado, tínhamos alugado um apartamento no “Centro comercial de Lagunillas” para efectuar as nossas orações diárias.

 

 

No início começamos a assistir sozinhos aos nossos encontros com o Eterno Bem amado. Mas um dia saiu do mais profundo do nosso Ser o desejo intenso de que este lugar não fosse desfrutado exclusivamente por nós, mas por todos aqueles que viessem à procura do Pai, de todo o coração. Poderiam aproximar-se e assistir às nossas devoções… milagre! Em questão de dias as pessoas não couberam no local,  muitos foram os que se quedaram à porta por não terem chegado a horas.

Assim nasceu uma formosa e fraterna amizade entre todos os colaboradores. E nesse ano, quando se aproximou o tempo do nascimento do menino Deus, logo começamos a discernir qual poderia ser a melhor forma de honrar tão nobre data. Foram ouvidas diferentes propostas, até que chegamos à conclusão que poderia haver um consenso em virtude de haver tanta criança pobre a viver num povo miserável. Visto, em tempos ali ter havido um campo petroleiro, agora deserto. As casas deterioravam-se e assim continuam a desmoronarem-se até ao momento… Em caminhos fantasmas de terra perigosa vagueiam crianças mal alimentadas, descalças e vestidas com roupitas velhas.

 

Ao por mãos à obra apresentamo-nos numa tarde boa e fomos porta por porta recolhendo os nomes, idade e sexo de cada criança dos dois aos onze anos. O passo seguinte foi classificar o número de brinquedos que era necessário comprar para poder ir a um armazém e adquirir o necessário para alegrar o Natal do mais pequenino, sobretudo daquelas crianças mais desvalidas.

 

Com os presentes devidamente adquiridos, consagramos um domingo à tarde para os embalar em papéis vistosos, com motivos de Natal. E uma vez que tudo estava pronto fomos falar com o sacerdote que celebrava semanalmente a Santa Missa na capela da casa “del caserío”, para lhe expor a nossa proposta, pois necessitávamos da capela para fazer a entrega dos presentes no dia de Natal. Santo Nicolás viria em pessoa para levar a efeito o bonito gesto, e só as crianças ficaram a ganhar. O padre aceitou e foi aí que nos demos conta que faltava  algo muito importante: faltava um sistema de som com alto-falantes e um microfone para chamar as crianças e passá-las para o interior da capela, uma vez que tivessem recebido o presente das mãos do Santo homem.

 

Finalmente chegou o tão desejado dia. Os brinquedos foram levados num pequeno camião e arrumados na capela. O sistema de som foi devidamente instalado. A nossa barba negra, nesse preciso momento foi pintada de prateado e nós pusemos o tradicional traje de S. Nicolás que havia sido feito especialmente para essa ocasião.

Quando chegou a hora todas as crianças luziam com os seus melhores fatos esperando impacientemente às portas da capela, onde os alto-falantes emitiam belas notas de violoncelo. Os membros da família, prestando ajuda, estavam em seus postos para irem passando os presentes e manter ordem na fila. Outros ocupavam-se da música para que as notas que fossem lançadas ao ar tivessem certas as suas melodias, oferecendo a todos um ambiente festivo (num dia tão importante preenchido de ilusões) para os ternos corações, que de outra maneira talvez tivessem passado o Natal com lágrimas nos olhos.

 

Quando chegou a hora, o Pai Natal subiu ao posto de comando de um dos aparelhos voadores que se encontravam na base dos helicópteros, ao seu lado ia outro piloto para levar a máquina de regresso ao heliporto. O helicóptero sobrevoou a capela dando um par de voltas sobre o povo para de seguida aterrar no muro de contenção que impedia que a água do lago entrasse nos campos petroleiros que são encontrados sob o nível do mar. O Pai Natal desceu do aparelho e colocou ao ombro uma bolsa cheia de caramelos. Os benévolos ali presentes quase não podiam conter às crianças, mas uma vez que o helicóptero regressou correram e cercaram o santo homem que feliz dava caramelos de mãos cheias.

 

Até chegar à capela levou uma meia hora, talvez fossem  uns cem metros de distância, mas com o reboliço que as crianças faziam não havia outro remédio se não avançar lentamente.

Chegando à porta principal da capela, o Pai Natal colocou-se do lado onde estavam os brinquedos acumulados e o microfone pronto para começar a chamar às crianças pelos seus nomes. À medida que recebiam os seus presentes e as carícias do velho santo, as crianças passavam para a parte interior da capela onde abriam os seus pacotes com avidez e grandes sorrisos. De vez em quando, o Pai Natal notava que alguma criancinha lhe roçava a perna direita e, uma das vezes ao virar a cabeça, viu esse gesto por parte de uma criança de cor, de grandes olhos, cujo branco brilhava como a neve. Por sua vez passou-lhe a mão na cabeça com um gesto de candura, com o coração carregado de Amor. O santo homem acariciava as cabecinhas dos meninos continuando na sua missão, distribuir brinquedos. Mas numa das vezes voltou a ver um pequeno anjo negro e este perguntou-lhe com uma voz quase imperceptível: De onde vens tu? E o Pai Natal sem pensar duas vezes respondeu: “Do Céu”. A face do pequeno anjo ficou com uma alegria indescritível, um imenso sorriso preencheu toda a sua humanidade. Agora, os olhos que brilhavam como estrelas, anunciavam indubitavelmente que tinham recebido a resposta que esperavam com ansiedade.

 

Pelo menos uma criança pobre tinha conseguido realizar o seu sonho, naquele Natal! Com lágrimas nos nossos olhos, continuámos a bela missão de S. Nicolás, mas eu nunca poderei esquecer a face angélica daquela criança.

 

 

Esta é a prenda de Natal que mando aos nossos leitores: Esta história maravilhosa e a mensagem que nela encerra!

Gostei de fazer a tradução. Fi-lo por mim e para VÓS.

 

FELIZ NATAL A TODOS E UM PERFEITO 2012!