Que quadro especial,

de sã e pura beleza!

que paisagem divinal,

do mais puro e mais real

perfume da natureza!

 

A passarada a voar,

num vai e vem constante

em correria pelo ar

como que a preparar

algo de muito importante.

 

Os melros em desvario,

no seu cantar estridente,

mostraram bem o seu brio,

após grande desafio

com outros de igual talento.

 

Aprumando seu cantar

está o rouxinol brilhante,

o pintassilgo a chegar

vem ao coro para dar

os seus dotes de cantante.

 

As pegas também queriam

entrar nesta cantoria,

desajeitadas fugiram

só porque não conseguiram

melhorar a sinfonia.

 

Também os corvos não são

bem apurados no som

mesmo em sua rouquidão

vão entrando na canção

mas muito fora do tom.

 

As popas e os pardais,

as ferreirinhas e gaios,

as carriças e outros mais

com seus cantos desiguais,

chegaram para os ensaios.

 

Mas há algo especial

que todos estão à espera,

a chegada triunfal

de um grupo genial

que anuncia a Primavera.

 

Andorinha a desejada

e o irrequieto estorninho,

depois de grande jornada,

alegram tudo à chegada

num enorme burburinho.

 

Começa agora a função,

é a loucura geral,

tantas vozes em junção

num canto de emoção

e beleza sem igual.

 

Então pelos campos fora,

num hino à liberdade,

cantam pelo dia fora,

espalhando a toda a hora

aroma de felicidade.

 

Alguém anda a trabalhar

no meio desta alegria

como que a completar

este quadro exemplar

de verdadeira harmonia.

 

Num incansável labor

para ganhar o seu pão,

o camponês com vigor

trata a terra com amor

com saber e devoção.

 

Vida de grande dureza

e dedicação total

mostrando sua nobreza,

respeitando a natureza

como sendo seu igual.

 

Antes do Sol ter chegado

quase sempre noite escura,

começa logo o seu fado,

correndo a tratar do gado

acção diária e bem dura.

 

Depois pelo dia fora

ninguém mais o vê parar,

tudo é feito sem demora,

num frenesim toda a hora

até a noite chegar.

 

Nesta grande caminhada

tem sempre por companhia

os cantos da passarada

que lhe animam a jornada

dando-lhe alguma alegria.

 

Dos seus tempos de lazer

poucos há para contar

pois há sempre que fazer

mas Domingo é bom de ver

sempre dá para descansar.

 

Vai cuidar da salvação

porque é pessoa de fé

e com muita devoção

no templo pede o perdão

de pecador que o não é.

 

Se ouve os sinos dobrar

é grande a consternação

e num silêncio de pesar

olha para o céu a rezar

com fervor sua oração.

 

Os seus filhos são criados

com muito amor e carinho

para a vida educados

sempre com muitos cuidados

pensando no seu destino.

 

Com os anos a passar

Sempre da mesma maneira

sem nada se alterar

quando um dia acordar

já passou uma vida inteira.

 

Através de gerações

tudo se tem repetido,

todas estas emoções,

costumes e tradições,

as gentes têm mantido.

 

Joaquim Ramos Pereira/21.03.2012

SOMAR - Dia Mundial da Poesia