Escrevo-te hoje,
quando quis e não quando devia.
Ou apenas te escrevo numa tarde qualquer,
como quem sentado à beira de um lago
vai atirando pedrinhas à água
e se prende aos círculos
do leve ondear provocado
que ganham amplitude
e se perdem na distância
ou se quebram em próximos obstáculos.
Assim te escrevo,
em tarde que eu quis ou em tarde de acaso
- que viver é para mim
mais acontecer que procurar.
Assim te escrevo,
atirando-te palavras e aguardar
na incerteza de ser obstáculo próximo
das vibrações almejadas.
Mas também te escrevo
com raiva de nada dizer
e de dizer mais do que digo.
Escrevo-te
como quem, sôfrego,
faz uma sementeira de palavras
e espera que delas nasça um grito
no ensurdecer que o rodeia.
Escrevo-te com medo
- com medo de me ter suicidado
na última carta que te escrevi.
Fico-me no pesar incerto
que só a tua resposta
ou o tempo que me convença sem ela
da minha (in)existência.
josé do fetal
Mem Martins/1971
Poetas de Cebola
Carta (...)
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- Escrito por: josé do fetal