Nas minhas andanças pela net, deparei-me com este texto. Apesar de descrever uma casa da Moura da Serra, assenta como uma luva nas casas antigas de cebola.
No passado a construção de habitações (outros edifícios) era feita de materiais na própria região, como sejam o granito, o xisto, o barro vermelho, a madeira (castanho e pinho e a telha portuguesa ou canudo.
O granito era utilizado para a construção das esquinas das casas e para o suporte das janelas, o xisto era colocado nas paredes e sobre as janelas e o barro vermelho servia para vedar as paredes, os telhados eram cobertos por lages ou por telha.
Interiormente as paredes e o soalho da casa eram em madeira de pinho, assentando este último em barrotes de castanho.
A divisão da casa era feita da seguinte forma: no rés-do-chão encontravam-se o curral e/ou arrumos e no primeiro andar a cozinha, e os quartos, (normalmente em número de dois) sendo a ligação entre os dois pisos feita por uma escada interior em madeira. A razão desta divisão tinha a ver com as condições climatéricas da região, pois a presença de animais no rés-do-chão fornecia calor ao piso superior.
A cozinha era uma divisão rudimentar, uma característica destas habitações era a não existência de chaminés, vistos os fumos saírem directamente pelo tecto, e eram préviamente aproveitados para o fumeiro dos enchidos e do presunto, bem como para a secagem das castanhas, também os alhos e as cebolas eram embraçadadas e penduradas na cozinha.
A inexistência de fogões a gás ou eléctricos fazia com as pessoas cozinhassem os alimentos em fogões a lenha ou em fogueiras no chão (“fogueiras de chabouco”) utilizando a trempe para apoio dos tachos ou frigideiras, enquanto as panelas de ferro (panelas com pés) ficavam em contacto directo com a fogueira.
Havia famílias que já dispunham da máquina a petróleo para cozinharem, no entanto era pouco utilizada porque o combustível tinha que ser comprado e os recursos eram escassos.
O mobiliário da cozinha a exemplo das restantes divisões era sóbrio e pobre, a mesa estava fixa á parede e era de abrir para a refeição e fechada após esta ter terminado, dado o espaço envolvente ser exíguo. Os tachos e outros utensílios quando não estavam a ser utilizados eram pendurados em suportes em madeira colocados na parede, e para se assentarem as pessoas utilizavam os bancos (“mochos”).
O reduzido serviço de louça era utilizado para dias de festa ou quando houvesse convidados em casa, entre família no dia-a-dia as pessoas comiam todas da bacia.
A iluminação durante a noite era feita com candeeiros de petróleo e lamparinas a azeite.
A casa de banho tal como a conhecemos hoje não existia, num dos quartos existiam os recipientes para as pessoas fazerem a sua higiene, normalmente havia um lavatório, um balde e um bidé em ferro esmaltado. A sanita era substituída pelo “penico” que estava debaixo da cama, este podia ser em cerâmica, metálico ou em plástico, e os dejectos eram lançados para a “estrumeira”.
A estrumeira ficava normalmente nas traseiras das casas, nesse local era colocado mato que com a adição dos dejectos humanos era transformado em estrume, que ia servir em conjunto com o esterco produzido pelos animais na loja, de fertilizante natural para as terras quando estas fossem lavradas e semeadas.
As lojas serviam para arrumos, de adegas, continham as arcas para armazenamento dos cereais, das salgadeiras para a conserva da carne de porco, da pia do azeite, para fazer bailaricos etc.
Os quartos normalmente tinham uma cama em ferro e uma arca para guardar as roupas, os colchões eram cheios a folhos do milho ripados.
As salas de jantar eram compostas pela mesa, cadeiras e armários ou louceiros.
Finalmente o sótão era utilizado para arrumos diversos, e também para armazenar as batatas.
E era assim uma casa típica na minha aldeia.
António Gonçalves
19OUT11