Boas notícias vieram de terras d’além-mar, dos lados de lá do Atlântico, do Canadá, pela escrita da sempre amiga Adelaide, sempre atenta às coisas e pessoas da sua e nossa terra.
Foi apenas o pontapé de saída.
A primeira a dar-se conta foi a Delfina que, nas suas horas vagas, se dedica a “vasculhar”, por tudo quanto é sítio, algo sobre Cebola e suas gentes.
Outros se lhes seguiram: o Joaquim Barata, o poeta Joaquim Ramos, o Jorge Parente, o Zé da Abeceira, o Vítor, o Tó Pires, e o Jorge, que labuta por terras de Espanha e de quem esperamos, com a ajuda de sua mãe e dos irmãos, essas histórias que seu tio-avô sabia muito bem contar.

Foto do Sr. Professor José Pereira
Conheci muito bem o Sr. Professor José Pereira. Ele e meu pai tratavam-se por primos.
Creio que o antepassado comum pertence à quarta geração.
Vinha muitas vezes a Cebola de visita a sua irmã, Maria de Jesus Pereira, (Piedade do Ti Floriano), ao irmão Alfredo Pereira (do Terreiro) e a outros familiares e amigos.
Quando, no Verão, subia o Corredouro, vindo de casa da sobrinha, Maria de Lurdes do Ti António Albano, cansado da subida, sentava-se muitas vezes na soleira da cozinha do Passadiço, conversando com meu pai, que já tinha metido os bois e esperava pela ceia.
De Inverno, entrava em casa e subia até à cozinha, sala de estar da família e dos amigos, onde lhe era facultado um lugar no “tabuão” dos homens, ao lado de meu pai.
Falavam da sua infância, dos companheiros e amigos, vivos e falecidos e dos seus antepassados comuns. Tinha menos um ano que meu pai.
Nunca aceitou comer connosco nem beber uma pinga do pichel.

Certidão de baptismo do Sr. Professor
Dizia que a sua Piedade já estaria à sua espera para cear e aprontava-se para sair.
- Ó “Calros”, vai alumiar o Senhor Professor nas escadas e nas escaleiras, dizia meu pai. E eu lá ia, à frente, devagar, para que o Sr. Professor não caísse. Ainda o alumiava a descer a quelha e a entrar na rua principal, onde ele já se podia guiar, olhando para o céu.
Dava-me um abraço e eu ainda ficava a observá-lo, rua acima, até que se sumia na escuridão.
Admirava muito este homem.
Muitas vezes o encontrava sentado à porta do sobrinho, Alfredo Barata, onde o ia cumprimentar e sempre me perguntava pela família.
Faleceu em 1990 com a bonita idade de 99 anos.

Foto de Dona Delfina Isabel, esposa do Sr. Professor José Pereira
Do casamento com Dona Delfina Isabel Pinto nasceram 9 filhos, 5 dos quais faleceram em criança e outro já com 13 ou 14 anos.
Ainda vive no Sobral a filha, Almerinda Isabel Pereira, de 96 anos que, gentilmente, autorizou que o Chico Genro pudesse fixar a sua objectiva em três quadros que embelezam este meu modesto trabalho.
Lembro-me também de seu filho Sebastião que vinha muitas vezes à Nogueira, propriedade tripartida por seu pai, pela Ti Piedade e por meu pai.
O seu filho, Sr. Padre Jaime Pinto Pereira, também vinha muitas vezes a Cebola. Visitei-o, acompanhado do Sr. Dr. Júlio César, em sua casa em Alvôco da Serra: (nasceu a 22.05.1916, foi ordenado sacerdote em 26.01.04.03.1939 e faleceu em 26.01.1987).
O Sr. Professor era um homem bom, trabalhador, honesto, sincero, exigente e austero consigo próprio. Os seus alunos, no Sobral, orgulham-se de o terem tido como professor.
Depois de se aposentar ainda foi dar aulas na Telescola de Alvôco da Serra juntamente com seu filho, Sr. Padre Jaime.

Esta foi a distinção honrosa concedida ao Senhor Professor
Em 3 de Junho de 1958 foi condecorado, pelo Presidente da República, Marechal Craveiro Lopes, com o grau de CAVALEIRO DA ORDEM DE INSTRUÇÃO PÚBLICA e concedidas as honras e o direito ao uso das insígnias que lhe correspondem.
Estas insígnias, por seu expresso desejo, foram a sepultar com ele.
Contaram-me que, quando alguém lhe perguntava se estava melhor, ele respondia que não estava doente.
Este homem nunca se queixou de qualquer achaque, pois era muito saudável.
Quando lhe diziam:
- O senhor professor anda rijo como um pêro… ainda chega aos 100!...
Ao que ele respondia:
- Se Deus o permitir, quero chegar aos 110.
Soube viver sempre bem com Deus e com os outros e por isso nasceu para uma vida de paz e alegria para sempre.
P.S. Agradeço ao amigo Xico o trabalho de se deslocar ao Sobral e aí fotografar os quadros pedidos.
Abril de 2010
Carlos Baptista Pereira